Enquanto houver estrada para andar

As grandes desilusões da vida encerram pelo menos o mérito de nos esclarecer para a evidência de que são poucas as pessoas que valem mesmo a pena. As que valem o nosso tempo, o nosso amor, a nossa dedicação e carinho contam-se pelos dedos de uma mão, ou, com muita sorte, das duas, e são sempre os amigos e a família. Sempre.

Amor & Etc…

Nem Deus pode mudar a verdade, diz uma personagem qualquer do Tennessee Williams, já não me lembro em que peça. É uma daquelas frases que me acompanha há décadas. Sempre que me vejo perante uma realidade que não consigo alterar, vem-me à cabeça o aforismo…

Amor & Etc.

O MEU PRIMEIRO AMOR, OU, COMO QUASE SEMPRE ACONTECE, O MEU PRIMEIRO ERRO DE CASTING

Tinha 15 anos quando me apaixonei pela primeira vez.

Digo que me apaixonei, porque foi a primeira vez que me encantei por um rapaz e chorei por ele. Na verdade, não sei se foi mesmo paixão, mas lembro-me de ter sentido borboletas na barriga, de ter sofrido de insónias e de ter provado o sabor amargo do ciúme. Talvez seja isso que construiu na minha memória a ideia da primeira paixão.

Antes disso já me tinha interessado por um tímido colega de turma só porque ele tinha olhos azuis, e mais tarde pelo primo de uma amiga pela mesma razão, e depois ainda por outro rapaz no 7º ano do liceu, que por acaso também tinha os olhos da mesma cor. Coincidência? Talvez não. O que aconteceu com estes rapazes é que o primeiro nunca conversou comigo porque era muito tímido, o segundo nunca me tocou a não ser quando dançávamos slow nas festas de anos dessa minha amiga e o terceiro, o homem que me deu o primeiro beijo na boca da minha vida, era parvo, convencido, namoriscava todas e mais alguma e além disso aquele beijo soube-me horrivelmente, parecia que estava a lamber o fundo de um lata de atum. Posto isto, acho que estes três não contam, portanto o primeiro foi mesmo o que me fez sonhar que um dia mais tarde me iria casar com ele.

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Amigos para Sempre

O jantar dos 50 anos do meu amigo Luís, no qual se juntaram 50 amigos fez-me pensar sobre a eterna questão da amizade entre os sexos. Estavam ali quase vinte mulheres que o rodearam de mimos e atenção e o encheram de surpresas e presentes, demonstrando um sólido afecto, ainda que, talvez, num ou noutro caso, remotamente perturbado pela desordem do amor. Seja como for, o que se viveu naquela noite foi o espírito da amizade que pôs o Luís com o sorriso de menino de cinco anos depois de abrir os presentes na noite de Natal.

A amizade entre os homens é um dado adquirido; a amizade entre as mulheres é um luxo raro e precioso; a amizade entre homens e mulheres é um bico de obra. Não é nem para todos os homens, nem para todas as mulheres, nem para todas as circunstâncias. Mas quando existe, é uma das melhoras aquisições que se pode fazer na vida.

“Boneca de Luxo” é um delicioso romance de Truman Capote que conta a história de uma americana de atitude exuberante e origem duvidosa que se movimenta com à vontade e perícia no meio nova iorquino do início dos anos 40. A heroína é Holly Golightly, encarnada no cinema por Audrey Hepburn no filme Breakfast at Tiffany’s, título original da obra.

O protagonista é um jovem aspirante a escritor que mora no mesmo prédio, com quem Holly estabelece uma relação de amizade com os típicos contornos da vaga ambiguidade que põem os homens apaixonados, sem que possam acusar as mulheres de terem feito alguma coisa por isso. A amizade cresce, sofre crises e eterniza-se no dia em que Holly decide fugir para o Brasil e o escritor promete encontrar o gato dela. Nunca acontece nada entre eles, não porque ele não o desejasse, mas porque Holly manobra a relação de forma a que a cumplicidade e o entendimento se sobreponham à atracção, desarmando o adversário com confidências fáceis, indiciando-o numa intimidade fraternal que chega ao ponto de lhe chamar Fred, o nome do irmão morto em combate.

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