Por Ana Vitória Lopes

Existe um provérbio africano que diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”

A sobrecarga materna é invisível aos olhos de quem assiste de fora a mulher cumprindo este que é um papel de extrema responsabilidade e que demanda dela muito esforço e pouco reconhecimento.

“Não é mais que obrigação”, dizem uns, enquanto outros lançam olhares de julgamento, tentando encontrar na mulher a culpa pelo fracasso do casamento pós filhos, dando razão para o pobre do marido, jogado às traças, malcuidado, mal alimentado e deixado de lado pela maltrapilha que habita a casa com bagunça e poeira acumuladas, se desdobrando em mil para ser a super mulher que a sociedade espera que ela seja.

A pandemia adoeceu ainda mais as mulheres que são mães e encontram-se sozinhas na criação dos filhos. Existe um provérbio africano que diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, mas se formos partir de dentro da própria casa, na maioria dos casos, o cacique é o primeiro a encontrar mil desculpas para se ater aos momentos que demandam pouco esforço da árdua tarefa que envolve a parentalidade. Há muito mais mulheres em depressão e desgastadas mentalmente depois da pandemia, pois o isolamento social colocou todo mundo à prova, cada um dentro de sua própria casa, cuidando de tudo ao mesmo tempo e agora.

Para a mulher, o isolamento social representou o último peso na pilha de demandas e responsabilidades assumidas e que tentamos equilibrar diariamente, sem intervalos para a sagrada cervejinha com os amigos, o futebol de quinta à noite ou o interminável rolar de dedos na tela do celular. Com isso, o fardo pesou demais e relacionamentos foram rompidos. Mas a pandemia foi só o estopim que faltava para muitas pessoas gritarem por ajuda e ainda assim, não serem ouvidas. A depressão mata aos poucos, é silenciosa e de frescura não tem nada.

A linha de investigação que cerca a trágica morte de Renata Fagundes, e a do filho de apenas 6 anos, ocorridas no último sábado em Belo Horizonte; indica que ela matou o filho e tirou a própria vida. Um ex-namorado da vítima ouvido pela polícia, relatou em depoimento que ela sofria de depressão e que a última vez que se falaram, ela revelou que não conseguia viver sozinha. Ontem à noite, em Barbacena, também em Minas Gerais, outra mãe com sérios problemas de depressão matou a filha de 1 ano de idade. Tirar a vida de alguém não é normal, ignorar os problemas de saúde mental que vem afetando cada vez mais mulheres e mães estafadas e cobradas o tempo inteiro, também não. Esta também não é a linha textual que gosto de trazer aqui, mas precisamos falar sobre isso. Não se diminua para fazer parte do padrão de outra pessoa, não se cale diante da necessidade de pedir ajuda e vá em busca dela até encontrar. Sua vida é valiosa e seus filhos (a) são o seu legado, o que você tem de mais precioso e especial, além de você mesma.

Ana Vitória Lopes

Jornalista e Assessora de Imprensa

@analopesjornalista


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