Quando as pessoas não estão bem não produzem o seu melhor. Esta frase traduz o que é o presentismo. É o fenómeno pelo qual o trabalhador, por falta de saúde, do corpo ou da mente, está presente no posto de trabalho, por vezes até ultrapassando o horário predefinido, sem que, dessa presença, decorra uma produtividade efetiva.
O conceito de presentismo explica por que é que as pessoas, estando presentes no local de trabalho não conseguem cumprir a totalidade das suas funções, devido a problemas de ordem física ou psicológica – “At work but out of it”. (Hemp, 2004, p 1).
Instalado na cultura do meio empresarial, para ser eliminado o presentismo exige uma mudança desta mesma cultura. Para o erradicar é necessário reconhecer que a produtividade dos colaboradores, tal como a sua iniciativa própria e a sua capacidade de pensar fora da caixa, não decorrem da quantidade de horas que estão no trabalho, mas da qualidade do seu empenho e da sua identificação com o trabalho.
Anteriormente definido como “comparecer ao trabalho quando se está doente”, o conceito evoluiu, passando a incluir uma ampla gama de comportamentos prejudiciais à forma como trabalhamos. Na atualidade, abrange os colaboradores que chegam cedo e ficam até tarde, para demonstrar compromisso; os que trabalham durante as férias e os que respondem a mails a todas as horas. Todos, confundindo uma atitude pouco saudável em relação ao trabalho com uma forte ética de trabalho, em detrimento do seu bem-estar pessoal.
De acordo com os investigadores, o presentismo não tem que ver com fingir uma doença (fingir estar doente para evitar as obrigações de trabalho) ou com divertir-se no trabalho (navegar na Internet quando se deveria estar a preparar um relatório). O termo, que tem ganho alguma popularidade, refere-se à perda de produtividade resultante de problemas reais de saúde.
As pesquisas sobre o fenómeno revelam que, os colaboradores não encaram o trabalho de forma leviana, a maioria precisa e quer continuar a trabalhar, se puder.
Muitos dos problemas de saúde que originam o presentismo são de natureza benigna (as condições de saúde graves obrigam os trabalhadores a ficar em casa por longos períodos de tempo). A nível físico, prevalecem as doenças músculo-esqueléticas (lombalgias e artrites), as cefaleias, as dores crónicas e os problemas respiratórios. No campo psicossomático, destacam-se a ansiedade, a depressão, o stress e o défice de atenção.
Diferença entre absentismo e presentismo
O absentismo é fácil de quantificar, ocorre quando os colaboradores não estão no trabalho devido a circunstâncias não planeadas, como doenças, mortes na família, problemas em casa, ou outras. Sabe-se que o colaborador tem produtividade zero.
O presentismo é mais difícil de quantificar. Os colaboradores vão para o trabalho, estão fisicamente nos seus postos de trabalho, mas não são produtivos.
De acordo com o relatório de saúde mental da Deloitte, de janeiro de 2020, o presentismo custa às empresas no Reino Unido 29 biliões de libras em perdas de produtividade, uma subida clara do fenómeno em relação ao estudo realizado em 2017.
Para nos dar perspectiva sobre este número, o relatório indica que as ausências por doença custam apenas 7 biliões por ano.
Em Portugal, num estudo de 2014, a Ordem dos Piscólogos estima que 2 em cada 10 trabalhadores sofram de questões psicológicas e tenham um absentismo de 1,3 dias por ano, devido a esses problemas de saúde.
Já o presentismo atribuível à falta de saúde psicológica será de 2 dias.
Os custos estimados do presentismo nas empresas portuguesas serão de 282 milhões euros por ano. Se adicionarmos os dois fenómenos, presentismo e absentismo, esses custos elevam-se para 329 milhões de euros, número com tendência a aumentar, considerando o que se verifica noutros países.
No mesmo estudo, conclui-se que acções de promoção e prevenção da saúde psicológica nas empresas portuguesas poderiam resultar numa poupança de 99 milhões de euros anuais.
Causas do presentismo
As ausências por doença têm diminuído constantemente, enquanto a pressão para ir trabalhar a todo o custo aumentou significativamente o presentismo, o que resulta numa cultura de trabalho tóxica.
Num contexto em que o teletrabalho passou a fazer parte do quotidiano, seria plausível esperar que o presentismo diminuísse. No entanto, tem-se verificado uma subida do chamado e-presentismo.
A tecnologia tem contribuído para uma mentalidade always on e torna-se difícil para os colaboradores desligar dos locais de trabalho. Com as notícias de lay off, demissões e cortes de salários, que acontecem em todos os sectores, os trabalhadores sentem a necessidade de investir mais e convencer os gestores de que vale a pena mantê-los.
Num estudo realizado pelo LinkedIn e pela UK Mental Health Foundation, quase 60% dos gestores de RH acreditam que o stress e a tensão de trabalhar em casa por um longo período podem fazer com que os trabalhadores entrem em burnout.
Alguns chegam mesmo a trabalhar durante as baixas por doença, durante as férias, ou a aproveitar esse tempo para dar assistência a filhos ou a familiares
O exemplo dos gestores
Os gestores atuam como modelos dentro de uma empresa e podem influenciar decisivamente a cultura de trabalho. No entanto, devido ao sentido de responsabilidade para com as suas equipas, podem, eles próprios, adoptar comportamentos de presentismo e, sem saber, pressionar os colaboradores a agir da mesma forma.
Preocupação com os colegas
O presentismo é predominante nos empregos nos quais a presença e a ausência de umas pessoas influenciam outras. É provável que os colaboradores trabalhem doentes, para evitar que um colega lide com uma carga de trabalho ou uma pressão adicional, especialmente em situações em que não há back up de funções.
Cultura da empresa
Estudos constatam que, o atendimento perfeito é visto como um sinal de compromisso com o trabalho, enquanto a dispensa por doença é vista como um sinal de baixo desempenho, principalmente no sector privado. Esse tipo de ética de trabalho pode ser perpetuado numa organização por gestores seniores e colaboradores de longa data, sem terem essa noção.
Stress no trabalho
Grande parte dos gestores não são treinados para lidar com problemas de saúde mental. Quando se trata de stress e presentismo, a correlação entre os dois é alta, e os colaboradores que se sentem inseguros quanto à estabilidade do seu posto de trabalho têm maior probabilidade de ir para o trabalho quando estão doentes.
Como gerir o presentismo?
Identificar os sinais
Conduzir reuniões individuais com os colaboradores, para avaliar como se sentem, profissional e pessoalmente. Se estiverem a sentir-se assoberbados com trabalho, esta é a oportunidade de os ajudar a gerir a carga laboral e a reduzir o stress. Meras conversas informais com os colaboradores também podem ajudar a identificar sinais de alerta.
Encorajar a confiança e a comunicação
A qualidade da comunicação entre os gestores da organização e os seus colaboradores faz espelho na qualidade da comunicação entre colaboradores. Se a comunicação for aberta e coerente e o comportamento da organização for previsível, o grau de confiança dos colaboradores será elevado e estarão mais à vontade para discutir e solucionar problemas de presentismo na equipa.
Monitorizar com base no desempenho ou nos resultados do trabalho e não nas horas trabalhadas
Alguns colaboradores acreditam que o facto de ficarem mais horas no trabalho é visto de forma favorável pelos gestores. Esta mentalidade contribui para o presentismo e, a longo prazo, pode ser mais prejudicial do que favorável para o negócio.
Implementar planos de bem-estar
Cada empresa deve ter um plano para garantir o bem-estar no trabalho, especialmente neste momento. Todos os colaboradores sentem que são importantes e ouvidos? Existem Soluções de Assistência ao Colaborador ou outros recursos que lhes possam ser oferecidos e esses têm conhecimento dos mesmos? Se tais recursos existem, agora é a hora de os promover, evocar ou implementar.
Reflexão final
O presentismo é um claro inimigo da produtividade, todos os esforços devem ser feitos para o erradicar, por parte dos gestores e dos colaboradores, numa Acão consciente e concertada.
Tânia Carvalho
Fundadora da INHERVOICE – Culture of Coaching.
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