Amor & Etc…
Nem Deus pode mudar a verdade, diz uma personagem qualquer do Tennessee Williams, já não me lembro em que peça. É uma daquelas frases que me acompanha há décadas. Sempre que me vejo perante uma realidade que não consigo alterar, vem-me à cabeça o aforismo. Deve ter sido o que Arthur Miller pensou, depois de anos a tentar consertar os nervos da sua querida e amada mulher. Impossível, estavam demasiado danificados.
As grandes desilusões da vida encerram pelo menos o mérito de nos esclarecer para a evidência de que são poucas as pessoas que valem mesmo a pena. As que valem o nosso tempo, o nosso amor, a nossa dedicação e carinho contam-se pelos dedos de uma mão, ou, com muita sorte, das duas, e são sempre os amigos e a família. Sempre. A família aprende a aturar-nos mesmo quando não nos compreende e os amigos percebem tudo. A amizade deve ser o sentimento com o nível de empatia mais elevado. O amor é total, egoísta, tantas vezes egocêntrico e mimado. A amizade é sobretudo feita de paciência, de entendimento, de solidariedade e de empatia. Os melhores amigos são as pessoas que melhor nos percebem e que sofrem com as nossas dores. Os mais ingénuos tentam resolvê-la, os mais experientes dão-te pistas para conseguirmos continuar, sem parar, enquanto houver estrada pra andar, como canta o Jorge Palma. Às vezes penso que se Marilyn tivesse cultivado boas amizades com outra mulheres, não se teria sentido tão só, porque a paixão faz-nos voar, mas é o amor que nos acolhe quando aterramos e é a amizade que nos ajuda a recuperar de aterragens mal calculadas. Artur Miller não conseguia ser seu amigo, amava-a demasiado para tal. No fim de contas, a amizade é o que fica, a bússola que nos orienta e a estrela que nos guia quando o resto falha. Todos precisamos de uma estrelinha da sorte, mesmo as estrelas de Hollywood.
by Margarida Rebelo Pinto